quinta-feira, janeiro 17, 2013

Vida Ilusória


Ela era de plástico. Braços e pernas moldados e perfeitamente simétricos. Porém, tinha movimentos perfeitos à sua capacidade, sorriso branco de se admirar, cabelos que cresciam e uma personalidade invejável. Rebeca só poderia ser uma boneca, do contrário não existiria. Era tão perfeita em sua essência por isso agradava à todos e para isso que ela vivia. "Que tal um cafézinho?" ou "Deita aqui que eu te consolo" ou "Sou toda ouvidos" eram suas frases preferidas. Parecia tão frágil a ponto de sentir-se forte, porém todos sabiam: por trás daquelas bochechas sempre rosadas, daqueles olhos que não piscavam e daquela casa que estava sempre impecavelmente - e neuroticamente- arrumada, se escondia uma pequena garota ainda fragilizada e tão inocente ao ponto de pensar que controlava suas atitudes e pensamentos.

"Coitadinha", seus próprios amigos diziam quando ela saía da sala de estar para buscar mais aperitivos para agradá-los, "pensa tanto nos outros que esquece dela própria". Ela escutava tudo e sempre devolvia com um sorriso sempre branco e que transbordava felicidade. Rebeca era feita de plástico, era oca por dentro, cheia de ar comprimido e algo que parecia sentimento, mas era pura ilusão. Era uma boneca: não tinha vontade própria, mas como tal, era induzida a ter. Quando escolhia tão bem suas roupas e era elogiada, pensava apenas no quanto era capaz de agradar aos olhos dos outros. Quando questionada sobre algo polêmico, via-se tão feliz por ter argumentos convincentes, um olhar decidido e uma opinião inteligente. Sem falar quando fazia uma escolha certa! Oh, meu Deus, ficava numa felicidade só.

Contudo, seus amigos tinham razão. Rebeca era uma pobre coitada, sem alma nem coração (literalmente), que só vivia dos pensamentos alheios e do que os outros lhe proporcionavam. Pobrezinha, confiava tudo à todos e era manipulada o tempo todo, sem nunca ter tido uma influência sequer sobre sua própria vida. Que pecado! Enquanto tudo isso acontecia e seus "amigos" sabiam de tudo, ela devolvia tudo em sorrisos sinceros, pois apesar de oca, para ela tudo era verdade. Mas que pena, ela nunca imaginara que por trás de tudo aquilo sempre houvessem mãos maiores que a carregavam, derrubavam, desprezavam e coordenavam.  É uma coitada mesmo, iludiu-se tanto que a realidade ficou só no pensamento. O qual também não lhe pertencia. A ela, a própria vida não cabia.

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