domingo, fevereiro 10, 2013

Carta #03


     
      Talvez seja verdade: você já não merece mais minhas cartas. Te escrevo espontaneamente, sem pressão.  Todas as noites, longas cartas me impedem de dormir quando o sono bate. Te sinto tão próximo, mas sequer entendo porque sinto isso, por isso te escrevo. Longas cartas, todas engavetadas ao mesmo tempo que sentimentos dos quais quero me livrar. Talvez assim alivie a consciência pesada que não me deixa dormir à noite. Eu sei, eu devo me acostumar com a frivolidade deste mundo, mas eu não consigo. É muito sentimento querendo me escapar e não tenho mais onde coloca-lo, nem motivos para isso. E este é um texto escrito em partes: mal decifro o que sinto agora, quem sabe amanhã entenderei. Ou depois. Talvez nunca entenda.

      Sabe, desde que você se foi algumas coisas mudaram. Não comigo. Foi com você. Por um momento eu olhava no seu rosto e te reconhecia, hoje já não sei se o faço. Dia desses me perguntaram se eu te conhecia. Falei que não. Você vai perguntar o porquê da minha mentira, mas acredite, foi uma grande verdade. Eu não te conheço mais. Você há muito tempo já não era mais aquele que me arrancava sorrisos mesmo quando eu estava triste, me abraçava como se fosse nossos últimos minutos, que fazia planos bobos comigo e topava sempre voltar a ser criança. Você nunca foi embora, pra falar a verdade. A única coisa que você fez foi colocar em palavras as suas atitudes já distantes.

      Eu sei que você não perguntou, mas eu estou bem. Apesar de tantas mudanças em relação à você, eu estou ótima. Vejo que você também, recuperando a vida que você tinha antes de me conhecer. A diferença é que hoje você é outro. Mais frio, calculista, receoso e estrategista. Mas meu amor, com sentimento não se joga, não se planeja, não se prevê. Fico feliz que você tenha essa ilusão, e penso que, depois de partir alguns corações e logo em seguida partir o seu novamente, talvez você me entenda. É por isso que reforço: essa é a última carta. Estou cansada de descontar nas palavras coisas que você me fez passar. Eu avisei, uma hora toda paciência acaba. Espero que a sua ainda dure, porque você vai ter que recolher muitos cacos de vidro para não se machucar novamente.

Daquela que te deseja toda sorte do mundo na sua reciclada fase. 

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