sábado, maio 04, 2013

Palavreado


Chega de vírgulas e reticências onde, há muito tempo, já deveria ter existido um ponto final. Palavras dispostas e enfileiradas não formavam uma história convincente. Já não suportava mais nossos vacilos gramaticais: exclamações fora de hora, interrogações ao invés de convicções, aspas por medo de tornar nossas as palavras dos outros. Éramos uma composição totalmente desarticulada, sem coerência e nem bom senso.

Traçada em linhas tortas, essa composição era um desastre pré-anunciado. Desvirtuava-se de todas as regras e normas de conduta de um bom escritor. Desafiava a interpretação dos mais sábios e mostrava aos leitores o que eles não queriam saber. A história criada e vivida por nós foi um fracasso. Desde o começo era rejeitada pelos leitores mais fieis. É claro, quem gosta de equívocos gramaticais? Ah, eu penso que você gosta. Sempre viveu tão bem nas entrelinhas da nossa história mal escrita, divertindo-se com nossos erros de pontuação. Só que hoje eu resolvi corrigir tudo isso.

Imersa nesse nosso confuso mundo das palavras, eu não sabia nem quais seriam as certas a se usar para consertar tudo isso. Então comecei colocando os pingos nos is – tão banal, mas frequentemente nos esquecíamos de fazê-lo. Depois, joguei fora as vírgulas inúteis e coloquei as perdidas em seus devidos lugares. Feito isso, troquei as interrogações por exclamações – elas são mais simpáticas. Ainda me permiti, para que ficasse cada vez melhor, mudar o nosso título. Mas ainda faltava um toque final.

Foi então que lá, na última linha da nossa história mal escrita, eu corrigi o erro mais grave. Logo ali, depois da última palavra. Apertei forte a caneta e coloquei um ponto final. Forte para que ele não se apague com o tempo e esqueça de existir. Afinal, ele é nosso toque final. Espero sinceramente que goste dessa nossa nova história. 

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