terça-feira, julho 19, 2011

Para quebrar o gelo

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Quatro horas da tarde. O sol se mostrava forte, e os vidros ironicamente estavam mais úmidos e gelados do que nunca. Ela olhava pro relógio e pensava quanto tempo duraria a incerteza. O coração de pedra era o motivo pelo qual o seu coração ainda batia. O dono do coração de pedra, é claro. Ele era frívolo, fazia jus ao coração que tinha. Jamais o entregara para alguém, era seu e ponto final. Por isto era de pedra: nunca tinha tido tempo para ser amolecido. Permanecia intacto, entre veias, artérias, órgãos e tudo o que ainda fazia aquele coração bater. E ela, inocente, que a ele confiou seu bem mais precioso.
Faziam exatamente 48 minutos que ele a deixara sentada no sofá da sala, segurando uma foto, com seu olhar parado e sem vida. Mas ela sentia, ainda sentia muito bem a dor eversiva que lhe tomava conta. 
A esta hora ele já devia estar chegando em casa, jogando o casaco em cima da poltrona, preparando seu café - amargo, bem quente. Então, ele sentaria em frente ao relógio e por lá permaneceria até que ela, como de costume, telefonasse e perguntasse se tinha chegado bem em casa. Então ele teria vontade de voltar, e já com saudades, lhe abraçar forte, até poder sentir seus corações batendo compassadamente. Mas hoje não seria assim. Hoje ele apenas acompanharia os ponteiros do relógio, e depois, lavaria sua xícara de café, sentindo o silêncio ecoando em seu apartamento. 
Estava frio. Seria mais frio ainda quando ela acordasse pela manhã e tivesse que levantar para preparar seu café da manhã, arrastando os pés e esfregando os olhos. Não sentiria o cheiro forte de café pela cozinha, e muito menos reclamaria da roupa jogada pela sala. 
Ainda parecia insano pensar que tudo acabara de uma hora para outra. Sua mão tremia de frio segurando a fotografia, e só por isso ela ainda lembrava que precisava levantar-se. Já havia passado uma hora, e nada daquele homem frio e sem sentimentos, ao menos uma vez na vida, arrepender-se de algo. 
Enquanto isso, milhares de pessoas haviam se apaixonado, muitas outras aprenderam algo, conheceram alguém, se arrependeram, abraçaram, sentiram, viveram. E ela apenas ali, com o coração na mão. 
Rígida ela estava, até a hora que a campainha tocou. Um sorriso brotou em seu rosto - tardio, mas sincero. Vagarosamente, levantou-se para ver no olho mágico, quem estava a sua espera. Não parecia se importar se sua visita desistisse de esperá-la e simplesmente desse as costas. Por um instante sentiu-se uns 50 anos mais velha, até um reumatismo deu-se o luxo de sentir. Na ponta dos pés, olhou pelo olho mágico, e tudo que viu foram apenas sombras. Ao abrir a porta, a surpresa: pelo visto,alguém sentiu falta de um abraço quente antes de dormir, de uma ligação de fim de tarde, de uma reclamação da bagunça e do cheiro do café. Pelo visto alguém sentiu frio. Não sente mais.

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