Há dois caminhos: o certo e o duvidoso. O que eu quero e o
que eu preciso. É tanta coisa se passando em pensamento, tudo voa, tudo corre,
passa rápido e o tempo passa.. E passou. Jamais me pus a imaginar que um dia
estaria te escrevendo uma carta sentindo o que sinto agora. E dessa vez não é
saudade. Mudar de ambiente me fez pensar no que eu era, no que eu me tornei e
no que estou prestes a ser, agora que aprendi a me desvincular das promessas do
passado. Talvez eu me arrependa. Ou melhor, eu já estou me arrependendo. E pela
primeira vez, não daquilo que não fiz, mas do já feito. Não é a primeira vez
que troco o certo pelo duvidoso e você sabe disso. Há tantas coisas as quais
deveriam ser discutidas antes desta decisão, mas eu me rendo muito fácil e o rumo
que as coisas tomaram me levou a crer que hoje já não sei mais quem sou, de
verdade. Se eu não estivesse aqui, seria muito fácil imaginar como estaria a
minha vida estagnada.
Foi estando longe de tudo que precisei aprender a não mais
me enganar, muito menos enganar aos outros. Eu aprendi a ser sincera da pior
forma, mas eu aprendo a continuar sendo pela necessidade. Chegou a hora de ser, de falar a verdade e
nada esconder. Porque a vida não é feita pra ser simples, pois se fosse de nada
adiantaria. Seríamos tão nós, sempre os mesmos, e sem vontade de mudança. Eu
tenho medo. Tenho medo que a minha sinceridade te faça chorar.. Talvez não
tivesse percebido que isto se trata de uma carta, afinal, fiz questão de
censurar os vocativos. Sim, censurar. Pois eles insistem em aparecer em meus
pensamentos e têm me levado à loucura aos poucos. Teu vocativo me faz pensar
sobre as coisas que vivemos e talvez nunca mais viveremos. Mas sim, esta é uma
carta. Escrita em um momento de reflexão, pra quê tu possas entender que minha
carência não te ofende: te sente falta. Procurar em outros braços teus abraços
me fez recorrer ao improvável e agora eu confesso que estou perdida. Pretendo
me encontrar, talvez hoje, talvez contigo. Talvez meu lugar seja aqui, e te
sentir seja algo que jamais farei novamente, pois pela primeira vez não sei o
que tuas palavras me reservam. Sei que minhas palavras estão vagas mas você
sabe mais do que ninguém que ser confusa é primordial.
Hoje posso dizer que me sinto chuva de verão. Fora de época,
mas que vem para equilibrar o desequilibrado. Obscurecer a visão já turva de
muitos de nós e esclarecer o colorido das pétalas primaveris. Eu te sinto,
mesmo de longe. Sinto teu abraço me pedindo de volta, como sinto teus dedos
entrelaçados nos meus, apertando para que eu não fuja nem desista de nós. Eu
não quis dizer adeus. Eu não queria dizer nada, pela primeira vez. Chega de
palavras, eu as uso e abuso frequentemente e você cansou dessa minha mania.
Chegou sua vez de falar, deveras cansado de tentar, espero que queiras. Estarei
aqui sempre, talvez não eternamente, pois o eterno não me pertence e um dia
sim, nossos destinos se separaram. O que me pertence são as minhas últimas palavras
a ti referidas antes de partir, e quero que saibas que estou a te ouvir quando
quiseres, quando puderes e se isto acontecer.
Daquela que por ti tem carinho apesar de tudo.
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