terça-feira, dezembro 25, 2012

História de Natal




Devia ter algum aroma envolvente, alguma luz diferente, algum motivo que os fizesse sempre, em todos os natais, reencontrarem-se para discutir os mesmos assuntos. Conheceram-se em uma festa de natal, há quatro anos atrás, trocaram telefones e nunca mais conversaram. Mas sabiam que algo diferente havia acontecido e que algum dia, um deles tomaria a coragem de discar o número do outro.
               
Mas as complicações começaram há três anos atrás, na véspera do natal. Ela, compenetrada nos preparativos para a ceia, mas ao mesmo tempo desacreditando em tudo que fingia acreditar. Não suportava mais a falsidade das pessoas que resolvem pensar no próximo apenas nessas épocas. A hipocrisia a revoltava e, não bastasse isso, pensava que o mundo precisava saber o que se passava na sua mente. Por isso escrevia longos textos nas noites de Natal. Textos não, desabafos. Porém, ela mantinha as aparências, preocupada com a árvore de natal e todas as luzes coloridas que piscavam conforme a batida do seu coração.

Já ele acreditava na magia do natal. Via as crianças correndo pela casa, esperando pelo Papai Noel, e tudo isso lhe encantava. Para ele, felicidade era isto: aquilo que não se enxerga. Enquanto preparava a ceia, cuidava das crianças e espiava o especial de natal que passava na televisão. Apesar de semelhante ao dos outros anos, sempre valia a pena sentir novamente a energia. E apesar da agitação, ainda conseguia sentir seu coração batendo, pois sabia que não terminaria aquela noite sem fazer algo que devia já ter feito.

Com medo que alguém visse que havia fugido dos preparativos, o rapaz pegou o celular e subiu rapidamente as escadas. Sentou-se na cama e, com as mãos trêmulas, digitou o número do telefone celular que já sabia decorado. Do outro lado da linha, uma voz conhecida disse “alô”, e ele respondeu:

- Feliz Natal. Espero que esteja realmente feliz e que fique mais ainda. Não sei se deveria estar te ligando, mas já faz um tempo que sinto sua falta. Algumas coisas mudaram desde que nos afastamos, mas eu nunca esqueci daquele sorriso que me fez acreditar no amor.

- É... Desculpa, eu preciso ir. Acho que realmente, muitas coisas mudaram, inclusive meu pensamento. Que já não tem nada a ver com você. Feliz Natal, de verdade.

E ela desligou.

No ano seguinte, véspera de Natal e mais uma vez ela preparava tudo com muito carinho. Não porque era natal, mas porque sempre o fizera. Alguma coisa a fazia relembrar o natal passado, talvez a presença de uma saudade que antes não havia. Ela sabia que outras coisas haviam mudado.

E o rapaz, novamente sentia-se vivo com a energia do natal. Porém a música ao fundo lhe trazia lembranças. “Last Christmas, I gave you my heart /But the very next day you gave it away /This year, to save me from tears /I'll give it to someone special”. Dessa vez era uma promessa: ele não telefonaria nem atenderia nenhuma ligação. Parecia duro, mas precisava aprender a recomeçar.

Então uma canção invade a melodia da música ambiente. O telefone tocava. Era ela. Ele ignorou.

Eis que chega o terceiro natal consecutivo em que eles estariam conectados. Agora mais maduros, ela já preparava a ceia tendo em mente uma visita. Ele, esperando alguma surpresa. Na casa dela, a família recolheu-se cedo. Ela vestiu sua camisola, distribuiu beijos de boa noite e trancou-se no quarto. Passado algum tempo, estava deslumbrante em um vestido vermelho que destacava seu belo corpo. Estava preparando-se para sair discretamente.

O jovem rapaz estava sozinho, sentado em frente à televisão. Diferentemente dos outros anos, passava o natal longe da alegria e magia característica da época. E mais uma vez, o toque do seu celular interrompeu os ruídos ambientes. Era ela.

- Alô?

- Estou indo pra sua casa, me espera.

E o silêncio no outro lado da linha.

Feliz, ele trocou de roupa e pôs-se a espera-la. Começou a relembrar os natais anteriores e tudo que com eles havia acontecido. Sempre se asseguraram nesta data para manterem contato e, apesar do distanciamento, se entendiam. E finalmente iriam ficar juntos, após tantas desculpas, confusões e ligações telefônicas.

Ele já estava ansioso. Já haviam se passado mais de duas horas da ligação dela e nada. Mas ele continuaria esperando, até que ela chegasse. Nem que isso levasse muito tempo, jamais seria tempo perdido. Ele sabia que ela chegaria.

De repente, algo no noticiário local que passava em sua televisão, lhe chamou atenção. A repórter mostrava cenas de um grave acidente ocorrido na noite de natal. Quando ouviu o nome das vítimas, ficou sem reação. Era ela que havia partido sem dizer adeus.

Talvez ela nunca fosse chegar.

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