Um clichê sobre o clichê

Quando surge alguém com uma ideia super-intensivamente-megamente-inovadora, sempre tem um bípede insatisfeito que olha este alguém com desdém e exclama: “nossa, que clichê!”. Sempre. Em todos os momentos algum indivíduo irá lembrar que tudo no mundo é clichê.

Se formos parar pra pensar, criar alguma coisa inteiramente inovadora é quase uma missão impossível nos dias de hoje. Todas as novas ideias geniais são meramente variações de coisas já existentes. Por isso tornam-se clichês, os quais já se tornaram cotidianos na vida contemporânea. Escritores deparam-se com clichês a cada texto novo a ser escrito. Cantores deparam-se com clichês a cada nova interpretação para uma música já lançada. Pessoas que não tem vínculo com nenhuma carreira artística deparam-se com uma casa com grades brancas e muro alto e já nem reparam. Porque é comum. Porque é clichê.

Essa palavra foi acolhida por todos com certa insatisfação. O que hoje em dia já não é mais comum? Viver é clichê. Dizer que é feliz é clichê. Sentir saudade de Cazuza ou Renato Russo é clichê. Admirar-se com a idade que chegou Oscar Niemeyer é clichê. Dizer que o Faustão está mais magro também é clichê. Ser você mesmo TAMBÉM é clichê. Odiar ouvir que tudo é clichê, também é clichê.

Em meio a tudo isso, só nos resta erguermos as mãozinhas aos céus e pedir que a inovação surja. Que coisas novas sejam bem vindas. Que as pessoas parem de julgar tudo um clichê. Todos sabem que o mundo é um clichê, porém não precisamos viver reclamando disso. Vamos parar de clamar pelo diferente. Ou então, vamos torcer para que os gramáticos inventem um sinônimo para essa palavra que ninguém mais aguenta ouvir.