“Te procurar em todos os lugares e te enxergar
em todas as pessoas.”
- Pedro Pinheiro
Eu encarava e sustentava aquele
olhar que eu sabia que em poucos minutos deixaria de estar ali, me conhecendo e
me entendendo como esteve nos últimos dias. Eu respirava descompassado já,
sabendo que despedidas não são meu forte, mesmo quando elas não significam um
ponto final, mas sim um novo parágrafo. Tenho medo de novos parágrafos
imprevisíveis e pontuações que interrompem um ciclo, mas não tem como fugir. Ele
disse “posso te contar um segredo? Eu tô apaixonado”. Não precisava dizer mais
nada e por isso o beijei. Que coincidência, falei abraçando e fingindo uma
inocência que nem vislumbrava uma despedida logo ali. Via aquela gente
desconhecida, milhares de rostos sem importância. Ninguém pra me segurar quando
ele virasse as costas e seguisse o caminho dele, carregando aquela Les Paul que
pesava 7 kg. Já falei, ele precisa tomar jeito.
Comecei a fazer meus cálculos
mentais. Só um mês, trinta dias, um doze avos de um ano, 4 semanas, quase nada,
passa e nem se percebe. Óbvio que não sei calcular mentalmente. Longe daquele
sorriso e daquele abraço, eu chorei por antecedência. Porque foi rápido, mas chegou
tão sútil que quando me dei conta, tudo havia mudado. Sútil e devastador. Cheio
de paradoxos tanto quanto os personagens dessa história.
Acho que ele me encantou. E como
todo apaixonado sabe, o encanto é um sintoma do amor. “Achei esse papel por aí
no chão... Dá uma lida, vê se você sabe o dono”. Peguei. Não esperava que nesse
momento, quando eu procurasse novamente os olhos dele para me sustentar, ele mandaria
um beijo e sumiria naquele labirinto que leva as pessoas para os seus destinos.
A sala de embarque era ali, há alguns passos. E foi em alguns passos que ele
sumiu, deixando pra trás a vontade de voltar e a vontade de não ir.
Olhei para o lado e já não achava
mais o menino com pinta de músico que me chama de morena. Já não sabia se
corria até ele, encenava um atraso para o voo e corria com urgência para mais
um último abraço. Pensei em segurar ele e pedir que esperasse. Pensei em dar um
jeito nessa saudade que já incomodava antes de bem começar. Pensei, novamente,
como teria sido se eu tivesse agido ao invés de pensar. Teria sido.
Ele sumiu por entre a multidão
carregando todos aqueles sentimentos que ele me provoca quando me abraça. Mas
quando eu virei as costas não carregava nenhuma Les Paul de sete quilos.
Carregava saudade precoce, sentimentos a flor da pele e algo muito mais pesado
e que não se mede. Tão atônita que fiquei ali, amontoadinha, esperando ele de
volta. Sem pressa.
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