segunda-feira, julho 15, 2013

Descaminhos


“Te procurar em todos os lugares e te enxergar em todas as pessoas.”
- Pedro Pinheiro

Eu encarava e sustentava aquele olhar que eu sabia que em poucos minutos deixaria de estar ali, me conhecendo e me entendendo como esteve nos últimos dias. Eu respirava descompassado já, sabendo que despedidas não são meu forte, mesmo quando elas não significam um ponto final, mas sim um novo parágrafo. Tenho medo de novos parágrafos imprevisíveis e pontuações que interrompem um ciclo, mas não tem como fugir. Ele disse “posso te contar um segredo? Eu tô apaixonado”. Não precisava dizer mais nada e por isso o beijei. Que coincidência, falei abraçando e fingindo uma inocência que nem vislumbrava uma despedida logo ali. Via aquela gente desconhecida, milhares de rostos sem importância. Ninguém pra me segurar quando ele virasse as costas e seguisse o caminho dele, carregando aquela Les Paul que pesava 7 kg. Já falei, ele precisa tomar jeito.

Comecei a fazer meus cálculos mentais. Só um mês, trinta dias, um doze avos de um ano, 4 semanas, quase nada, passa e nem se percebe. Óbvio que não sei calcular mentalmente. Longe daquele sorriso e daquele abraço, eu chorei por antecedência. Porque foi rápido, mas chegou tão sútil que quando me dei conta, tudo havia mudado. Sútil e devastador. Cheio de paradoxos tanto quanto os personagens dessa história.

Acho que ele me encantou. E como todo apaixonado sabe, o encanto é um sintoma do amor. “Achei esse papel por aí no chão... Dá uma lida, vê se você sabe o dono”. Peguei. Não esperava que nesse momento, quando eu procurasse novamente os olhos dele para me sustentar, ele mandaria um beijo e sumiria naquele labirinto que leva as pessoas para os seus destinos. A sala de embarque era ali, há alguns passos. E foi em alguns passos que ele sumiu, deixando pra trás a vontade de voltar e a vontade de não ir.

Olhei para o lado e já não achava mais o menino com pinta de músico que me chama de morena. Já não sabia se corria até ele, encenava um atraso para o voo e corria com urgência para mais um último abraço. Pensei em segurar ele e pedir que esperasse. Pensei em dar um jeito nessa saudade que já incomodava antes de bem começar. Pensei, novamente, como teria sido se eu tivesse agido ao invés de pensar. Teria sido.

Ele sumiu por entre a multidão carregando todos aqueles sentimentos que ele me provoca quando me abraça. Mas quando eu virei as costas não carregava nenhuma Les Paul de sete quilos. Carregava saudade precoce, sentimentos a flor da pele e algo muito mais pesado e que não se mede. Tão atônita que fiquei ali, amontoadinha, esperando ele de volta. Sem pressa.

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