domingo, novembro 03, 2013

Mar


Marina morena era doce como algodão-doce. Marina vinha do mar, com suas ondas que chamava de cabelos, ela rodopiava sua saia rendada com seu jeito de moça querendo crescer. Tinha um sorriso que quando sorria apertava seus olhinhos e salientava suas bochechas. Ainda era menina, sabia no fundo, mas queria crescer.

Dos seus pequenos olhos brotavam o desejo de conhecer o mundo, o que não podia conhecer, saber que além do doce universo que a rodeava havia muito mais. Sua inocência refletia no seu rodopiar, no balanço do seu mar e no seu jeito tímido de sorrir. Falava tão doce que quando queria embrabecer só fazia chover por seus olhos pequeninos. Não tinha raiva no coração a menina, era doce como algodão-doce.

No dia de brabeza, o mar revoltava, ficava gelado mas tão mais quieto que só quem conhecia percebia. Não soltava as ondas do cabelo, não rodopiava a saia, não deixava doçura transparecer. Só murmurava um: vai passar, vai. Não passava, guardava um pouquinho da amargura naquele coraçãozinho doce, porque ela sabia que um coração agridoce era um coração de mulher. A menina queria ser mulher.

Ela cresceu – todos notavam, cadê o jeito doce de Marina? Sempre esteve lá, guardadinho pra quem merecesse. Doce como algodão-doce, deixou seu coração ser agridoce, mas no fundo, no fundo, quando ela rodopiava aquela mesma saia e sorria aquele mesmo riso de menina, todo mundo sabia: a chuva passou, a doce Marina voltou.  

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