No dia de mais um
aniversário acordou como sempre atordoada. Aquela fora apenas mais uma noite
obscura, com sonhos repetitivos que lhe vinham afligindo seus pensamentos.
Aquele mesmo rosto sombrio e malicioso lhe infernizava à noites, e estava lhe
levando ao delírio. As tias, diariamente questionavam: “Anita, o que te aflige?
Sabemos que não és assim!”. A preocupação não bastava. Anita sempre fora
determinada, apesar de muito sensível, tinha personalidade forte. Em sua mente,
algo a fazia cair dias após dia. “Se abra comigo, conte seus problemas!”, dizia
Ana, sua irmã. Todos estavam aturdidos com os comportamentos de Anita. Não era
de se admirar que no dia de seu aniversário a história se repetisse.
Ao abrir os olhos, analisou
o quarto, cada detalhe tão familiar, a miniatura de Santo Antônio sobre a
cômoda, o retrato de sua avó, a veneziana enferrujada entreaberta, mostrando
por entre as frestas que mais um dia chegou. E como se não respondesse mais aos
seus comandos, levantou-se da cama e seguiu em direção à porta de seu quarto.
Ao passar pelas quatro mulheres que com ela conviviam, garantiu estar com pleno
controle de suas faculdades mentais. Depressa, foi em direção à porta da rua e seguiu
seu caminho determinada, reconhecendo os locais por onde passava, por entre as
árvores, naquela manhã fria e chuvosa.
Subitamente, se vê parada
em frente à uma mansão abandonada e sente que encontrou o seu destino. Neste
momento, uma leve brisa bate em seus cabelos sedosos e uma lágrima corre por
sua face. “O que há de errado comigo?”, pergunta-se repetidamente. Agora,
sentada em frente à casa, como um fato do destino, o vento levianamente faz com
que a porta da casa de madeira se abra, como um convite para que Anita entre e
sinta-se a vontade. Levanta-se com dificuldade, e abalada, empurra a porta já
entreaberta.
Seus passos soavam como
sussurros na madeira já antiga do assoalho. Pelo chão, cacos de vidro, e os
vestígios de sangue que saiam dos pés da garota. Haviam pedaços de madeira por
todos os lados, bem como ratos e baratas que dançavam ao redor de seus pés
descalços. Lentamente, ela se aproxima do estreito corredor e ao passar por
ele, com um golpe repentino é jogada ao chão. À sua volta, não havia ninguém.
Agora, dentro da casa a única
coisa possível de escutar eram gritos dolorosos e ensurdecedores de mulher.
Repentinamente, levanta-se e olha ao seu redor. Ao olhar para o teto, podia ver
gente caminhando no segundo andar da casa, o que era impossível. A moça grita
desesperadamente: “Tem alguém aí?”, e juntamente com o eco de sua voz, um tiro
é disparado, seguido de um grito estridente de dor. Tapando os ouvidos, os
olhos verdes de Anita estavam agora em pânico, e como defesa, se joga e cava
seus dedos no chão. Num silêncio mortal, cansada de esperar e repleta de
curiosidade, levanta-se e segue vagarosamente em direção à escada.
No segundo andar, tendo agora a garantia que
permanecia sozinha na casa, olha com curiosidade para o buraco existente em
pleno chão da casa, como se algo muito pesado tivesse atingido e quebrado com
ferocidade a antiga madeira. Curiosa, aproxima-se para analisar, quando, ao
virar-se, nota a presença de mais uma escada.
Atordoada,
sobe rapidamente os degraus amadeirados que rangiam. Ao chegar ao último andar,
depara-se com mais uma cratera, porém agora um pedaço de madeira liga ao outro
lado como se fosse uma ponte. A jovem não pensa duas vezes, e dispõe-se pronta
para atravessar. Porém, no real momento em que daria o primeiro passo, ouve-se
um estouro vindo do térreo. Sem reação, mas ainda disposta a cruzar a “ponte”,
dá o primeiro passo, equilibrando-se de maneira inacreditável. Era impossível
que não fosse lembrar-se das aulas de balé que tanto lhe faziam bem, e lhe
ajudaram a desenvolver seu equilíbrio. Fecha os olhos e distrai-se em seus
pensamentos nostálgicos.
Ao abrir os olhos, uma
surpresa: depara-se com andar de baixo em chamas muito violentas, fazendo com
que o calor lá dentro se tornasse insuportável. Anita, sem ter outra saída, fechou
os olhos e imaginou que tudo estava bem – como costumava fazer diante das
dificuldades cotidianas. Assim que tornou a atravessar, por um momento, sentiu
que não estava sozinha. Abre os olhos de maneira delicada, e quando fitou o que
estava a sua frente, quase perdeu o equilíbrio.
Lá estava ele, em carne e
osso. Aquele exato rosto sombrio e malicioso que tanto lhe infernizara as
noites, na sua frente. Agora sorrindo, o jovem homem lhe deseja, com tom de
ironia: -“Feliz aniversário, Anita.”.
A jovem que ainda se
equilibrava no estreito pedaço de madeira, agora, nervosa, o questiona:
- “Quem é você?”.
Espantado com a pergunta,
o homem retruca:
- “Como ‘quem sou eu?’! Você me
conhece muito bem. À propósito, como você pode ser tão irresistível?”.
Anita sentiu-se tão ofendida,
e como súbita defesa, gritou:
-“Saia já daqui, seu monstro!”.
-“Impossível, minha princesa.”- disse
o homem, não perdendo a oportunidade de provocá-la
-“Fique calado! Não quero te ouvir!
Já não bastou me trazer até aqui?”
-“Anita, preste atenção – ele disse,
destacando cada palavra - eu estou extremamente obcecado por você.”
-“Não seja hipócrita! Deixe-me em
paz!” – gritou a jovem, e como defesa, jogou o pedaço de madeira que tinha em
mãos em seu opressor.
E em um piscar de olhos, o maníaco
desaparece. Anita continua assustada, e grita:
-“Onde está você, seu tirano?!”
As chamas, que agora subiam e o calor
que aumentava a cada batimento cardíaco, deixavam a moça mais aflita. Sem ver
outra saída, sai a procura de uma porta para rua. Descendo para o segundo
andar, ao ver tudo em chamas, seus olhos verdes se fecham, e dando-se por
vencida, entrega seu corpo, mergulhando com louvor no fogo do inferno, para lá,
morrer e descansar por toda eternidade nos braços do homem de má índole.
oi linda preciso de um e-mail para contato :)
ResponderExcluirpode ser seu face mesmo amor!
meu e-mail: adoravelestupidez@hotmail.com