quarta-feira, maio 22, 2013

Devaneios de uma manhã de outono



No dia de mais um aniversário acordou como sempre atordoada. Aquela fora apenas mais uma noite obscura, com sonhos repetitivos que lhe vinham afligindo seus pensamentos. Aquele mesmo rosto sombrio e malicioso lhe infernizava à noites, e estava lhe levando ao delírio. As tias, diariamente questionavam: “Anita, o que te aflige? Sabemos que não és assim!”. A preocupação não bastava. Anita sempre fora determinada, apesar de muito sensível, tinha personalidade forte. Em sua mente, algo a fazia cair dias após dia. “Se abra comigo, conte seus problemas!”, dizia Ana, sua irmã. Todos estavam aturdidos com os comportamentos de Anita. Não era de se admirar que no dia de seu aniversário a história se repetisse.
Ao abrir os olhos, analisou o quarto, cada detalhe tão familiar, a miniatura de Santo Antônio sobre a cômoda, o retrato de sua avó, a veneziana enferrujada entreaberta, mostrando por entre as frestas que mais um dia chegou. E como se não respondesse mais aos seus comandos, levantou-se da cama e seguiu em direção à porta de seu quarto. Ao passar pelas quatro mulheres que com ela conviviam, garantiu estar com pleno controle de suas faculdades mentais. Depressa, foi em direção à porta da rua e seguiu seu caminho determinada, reconhecendo os locais por onde passava, por entre as árvores, naquela manhã fria e chuvosa.
Subitamente, se vê parada em frente à uma mansão abandonada e sente que encontrou o seu destino. Neste momento, uma leve brisa bate em seus cabelos sedosos e uma lágrima corre por sua face. “O que há de errado comigo?”, pergunta-se repetidamente. Agora, sentada em frente à casa, como um fato do destino, o vento levianamente faz com que a porta da casa de madeira se abra, como um convite para que Anita entre e sinta-se a vontade. Levanta-se com dificuldade, e abalada, empurra a porta já entreaberta.
Seus passos soavam como sussurros na madeira já antiga do assoalho. Pelo chão, cacos de vidro, e os vestígios de sangue que saiam dos pés da garota. Haviam pedaços de madeira por todos os lados, bem como ratos e baratas que dançavam ao redor de seus pés descalços. Lentamente, ela se aproxima do estreito corredor e ao passar por ele, com um golpe repentino é jogada ao chão. À sua volta, não havia ninguém.
Agora, dentro da casa a única coisa possível de escutar eram gritos dolorosos e ensurdecedores de mulher. Repentinamente, levanta-se e olha ao seu redor. Ao olhar para o teto, podia ver gente caminhando no segundo andar da casa, o que era impossível. A moça grita desesperadamente: “Tem alguém aí?”, e juntamente com o eco de sua voz, um tiro é disparado, seguido de um grito estridente de dor. Tapando os ouvidos, os olhos verdes de Anita estavam agora em pânico, e como defesa, se joga e cava seus dedos no chão. Num silêncio mortal, cansada de esperar e repleta de curiosidade, levanta-se e segue vagarosamente em direção à escada.
 No segundo andar, tendo agora a garantia que permanecia sozinha na casa, olha com curiosidade para o buraco existente em pleno chão da casa, como se algo muito pesado tivesse atingido e quebrado com ferocidade a antiga madeira. Curiosa, aproxima-se para analisar, quando, ao virar-se, nota a presença de mais uma escada.
         Atordoada, sobe rapidamente os degraus amadeirados que rangiam. Ao chegar ao último andar, depara-se com mais uma cratera, porém agora um pedaço de madeira liga ao outro lado como se fosse uma ponte. A jovem não pensa duas vezes, e dispõe-se pronta para atravessar. Porém, no real momento em que daria o primeiro passo, ouve-se um estouro vindo do térreo. Sem reação, mas ainda disposta a cruzar a “ponte”, dá o primeiro passo, equilibrando-se de maneira inacreditável. Era impossível que não fosse lembrar-se das aulas de balé que tanto lhe faziam bem, e lhe ajudaram a desenvolver seu equilíbrio. Fecha os olhos e distrai-se em seus pensamentos nostálgicos.
Ao abrir os olhos, uma surpresa: depara-se com andar de baixo em chamas muito violentas, fazendo com que o calor lá dentro se tornasse insuportável. Anita, sem ter outra saída, fechou os olhos e imaginou que tudo estava bem – como costumava fazer diante das dificuldades cotidianas. Assim que tornou a atravessar, por um momento, sentiu que não estava sozinha. Abre os olhos de maneira delicada, e quando fitou o que estava a sua frente, quase perdeu o equilíbrio.
Lá estava ele, em carne e osso. Aquele exato rosto sombrio e malicioso que tanto lhe infernizara as noites, na sua frente. Agora sorrindo, o jovem homem lhe deseja, com tom de ironia: -“Feliz aniversário, Anita.”.
A jovem que ainda se equilibrava no estreito pedaço de madeira, agora, nervosa, o questiona:
- “Quem é você?”.
Espantado com a pergunta, o homem retruca:
- “Como ‘quem sou eu?’! Você me conhece muito bem. À propósito, como você pode ser tão irresistível?”.
Anita sentiu-se tão ofendida, e como súbita defesa, gritou:
-“Saia já daqui, seu monstro!”.
-“Impossível, minha princesa.”- disse o homem, não perdendo a oportunidade de provocá-la
-“Fique calado! Não quero te ouvir! Já não bastou me trazer até aqui?”
-“Anita, preste atenção – ele disse, destacando cada palavra - eu estou extremamente obcecado por você.”
-“Não seja hipócrita! Deixe-me em paz!” – gritou a jovem, e como defesa, jogou o pedaço de madeira que tinha em mãos em seu opressor.
E em um piscar de olhos, o maníaco desaparece. Anita continua assustada, e grita:
-“Onde está você, seu tirano?!”
As chamas, que agora subiam e o calor que aumentava a cada batimento cardíaco, deixavam a moça mais aflita. Sem ver outra saída, sai a procura de uma porta para rua. Descendo para o segundo andar, ao ver tudo em chamas, seus olhos verdes se fecham, e dando-se por vencida, entrega seu corpo, mergulhando com louvor no fogo do inferno, para lá, morrer e descansar por toda eternidade nos braços do homem de má índole.

Eu sei. Esse texto não parece meu, mas ele é. Foi escrito quando eu tinha 14 anos e, nessa história de revirar o passado, resolvi desenterrá-lo. Espero que tenham gostado.

Um comentário:

  1. oi linda preciso de um e-mail para contato :)
    pode ser seu face mesmo amor!
    meu e-mail: adoravelestupidez@hotmail.com

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