Parece que algumas coisas são tão tradicionais na vida das pessoas que elas não conseguem desapegar. Aceitam que o salgado deve vir antes do doce, e trocar a ordem da sobremesa é uma afronta às tradições. Criam um costume para defender sua falta de criatividade na hora de presentear os mais próximos, assim, passam a vida inteira comprando ursinhos.
Talvez desde os primórdios, ou até mesmo,
desde a pré-história, em vez de presentearem desenhos nas paredes cavernas,
os homens davam ursinhos de pelúcia para suas amadas. Aquelas bolas de pelo são
o território comum de todos os presentes: o primeiro a ser pensado e o primeiro
a ser descartado pelos racionais.
O problema é
que poucos são racionais, e partem para o coringa que sempre dá certo. Com
namoradas, então, nem se fala! 10 entre 10 meninas já receberam caminhões de
ursinhos de pelúcia que atestam minha tese: é medo de ousar. Logo, as pobres
coitadas colecionam fofuras inúteis em cima do guarda roupa, da estante, da
cama, juntando poeira e encarando-as o tempo todo. Tudo culpa daquele ser que
se chama namorado.
Alguns até
tentam ousar: um chocolatinho pra acompanhar. Outro território já explorado o
suficiente pra não render mais surpresas. É quase a dupla infalível, mas que
costuma falhar. Está no contrato dos namoros:
Artigo 6 –
Parágrafo 1:
Ao assinar
esse contrato de relacionamento, seja este durando um dia ou uma década, está
se comprometendo a dar um ursinho acompanhado de chocolates como presente a
cada aniversário de namoro, até o fim dos tempos.
E ai do
pobre coitado que descumprir essa regra! Será castrado e ainda terá que ouvir
milhares de “você não me ama mais? Por que você nunca me deu um ursinho,
benzinho?”. É, meu caro, você assinou isso sem ler, não é mesmo?
Se você,
caro leitor, está pensando o mesmo que eu, sim, a matemática explicaria. Em
progressão geométrica de crescimento exponencial, quando a mulher chega na
terceira idade, a quantidade de ursinhos que ela acumulou ao longo dos anos
poderia ocupar uma casa de aproximadamente 42 m². Um orfanato de ursinhos
abandonados, que estarão fedendo a mofo por falta de carinho. Nessa hora, você
acha mesmo que ela vai lembrar de cada ocasião em que ganhou esse presente?
Então,
rapazes, aí vai a ordem (sim, não é pra ser uma dica): arrisquem levar um
tabefe na cara, um “esperava mais de você”, ou até mesmo um “não fale comigo
nunca mais”, mas pelo menos ousem. O capitalismo é vasto e traz milhares de
opções de presentes (até porque ele precisava trazer algo de bom pra nossa
vida), mas se ainda assim nenhuma te agradar, crie. Não importará o quanto você
gastou, e sim o quanto você demonstra o que sente. Até porque, depois de anos,
ela não lembrará, em meio a um espirro por causa da poeira acumulada, que foi
você que lhe deu aquele presente. Ela lembrará, em meio a um sorriso, que você
foi diferente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário