quarta-feira, agosto 13, 2014

Excesso de fofura


Parece que algumas coisas são tão tradicionais na vida das pessoas que elas não conseguem desapegar. Aceitam que o salgado deve vir antes do doce, e trocar a ordem da sobremesa é uma afronta às tradições. Criam um costume para defender sua falta de criatividade na hora de presentear os mais próximos, assim, passam a vida inteira comprando ursinhos.

 Talvez desde os primórdios, ou até mesmo, desde a pré-história, em vez de presentearem desenhos nas paredes cavernas, os homens davam ursinhos de pelúcia para suas amadas. Aquelas bolas de pelo são o território comum de todos os presentes: o primeiro a ser pensado e o primeiro a ser descartado pelos racionais.

O problema é que poucos são racionais, e partem para o coringa que sempre dá certo. Com namoradas, então, nem se fala! 10 entre 10 meninas já receberam caminhões de ursinhos de pelúcia que atestam minha tese: é medo de ousar. Logo, as pobres coitadas colecionam fofuras inúteis em cima do guarda roupa, da estante, da cama, juntando poeira e encarando-as o tempo todo. Tudo culpa daquele ser que se chama namorado.

Alguns até tentam ousar: um chocolatinho pra acompanhar. Outro território já explorado o suficiente pra não render mais surpresas. É quase a dupla infalível, mas que costuma falhar. Está no contrato dos namoros:

Artigo 6 – Parágrafo 1:
Ao assinar esse contrato de relacionamento, seja este durando um dia ou uma década, está se comprometendo a dar um ursinho acompanhado de chocolates como presente a cada aniversário de namoro, até o fim dos tempos.

E ai do pobre coitado que descumprir essa regra! Será castrado e ainda terá que ouvir milhares de “você não me ama mais? Por que você nunca me deu um ursinho, benzinho?”. É, meu caro, você assinou isso sem ler, não é mesmo?

Se você, caro leitor, está pensando o mesmo que eu, sim, a matemática explicaria. Em progressão geométrica de crescimento exponencial, quando a mulher chega na terceira idade, a quantidade de ursinhos que ela acumulou ao longo dos anos poderia ocupar uma casa de aproximadamente 42 m². Um orfanato de ursinhos abandonados, que estarão fedendo a mofo por falta de carinho. Nessa hora, você acha mesmo que ela vai lembrar de cada ocasião em que ganhou esse presente?


Então, rapazes, aí vai a ordem (sim, não é pra ser uma dica): arrisquem levar um tabefe na cara, um “esperava mais de você”, ou até mesmo um “não fale comigo nunca mais”, mas pelo menos ousem. O capitalismo é vasto e traz milhares de opções de presentes (até porque ele precisava trazer algo de bom pra nossa vida), mas se ainda assim nenhuma te agradar, crie. Não importará o quanto você gastou, e sim o quanto você demonstra o que sente. Até porque, depois de anos, ela não lembrará, em meio a um espirro por causa da poeira acumulada, que foi você que lhe deu aquele presente. Ela lembrará, em meio a um sorriso, que você foi diferente.

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